quarta-feira, 30 de julho de 2008

Em 7 minutos ou dois gols

“Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola. A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana. Às vezes, num córner mal ou bem batido, há um toque evidentíssimo do sobrenatural"

Nelson Rodrigues era um reacionário-da-direita-extrema com todos os pleonasmos adjuntos possíveis. E sem exagero. Mas, para romancear o futebol, houve poucos como ele. Uma simples “pelada” de fim de semana pode conter proporções cósmicas e invisíveis que normalmente não se vê em outro esporte conhecido pelo Homem. Quem joga sabe. Parece que a Lei de Murphy está no campo, quadra, ou rua desfilando sua máxima a toda hora. E o que faz o ludopédio mais interessante ainda é que o contrário também vale. Ás vezes, a sacramentada derrota, chute torto ou um toque estranho na bola torna-se mágico e digno da reverberação pulmonar de todos os presentes...

“Ta” bom. Por que tanta divagação? É que sábado passado eu estava justamente numa pelada com esses momentos grandiosos. De todo, não foi mal nem bom – simplesmente aconteceu.

Antes de tudo, esporte é guerra. Fato. Ninguém quer competir – isso é balela. Fair Play? Sei... Como dizem todos os boleiros “profissionais”: Quando a bola rola, todo mundo quer ganhar!

Então, o que realmente aconteceu é um daqueles momentos de quase toda pelada. Formou-se uma panela (quando os melhores jogadores se juntam, com o objetivo óbvio de não perderem e ficarem jogando Deus sabe até quando). Do outro lado, o time, que eu estava, como se diz, não salvava nem no papel. Os prognósticos eram de uma simplicidade péssima. Com o perdão das palavras, tinha desde o gordinho que não “chega” nem quando o passe é bom e o alto/desengonçado que nem sabe por que está na pelada.

Esse é uma das poucas situações do cotidiano que realmente me animam. É difícil ver a adversidade na sua frente com tanta força e, além disso, tão clara. Só há um jeito de tudo dar certo. Rola a bola – eu tinha combinado com o goleiro, que teve a sensibilidade de sacar a situação que aquela partida de sete minutos era nossa.

Engraçado, que os detalhes agora me fogem. Pra quem entende um pouco de futebol, eu praticamente encarnei o Gattuso, aquele volante/volante italiano, que joga no Milan. Pra quem não entende, eu que não sou raçudo, comecei a correr feito louco, acreditando em jogadas tão furadas como promessa eleitoral este ano! Nosso goleiro pegou não sei quantas boladas, chutes na cara do gol, que em partidas medianas, já teriam passado com toda a certeza. Num lance deixei o gordinho com o gol vazio – 1 x 0. Não lembro do gol deles, nem mesmo se houve.

Mas em dado momento, estava na ponta esquerda da quadra, o goleiro lançou e recebi sozinho de costas para o gol, dei uma caneta no goleiro (por entre as pernas) e saí livre pra marcar. Entre as traves, acho que a bola até chegaria sozinha com algum custo. Mas, no melhor momento “f*%#$&oda-se o mundo”, armei o conhecido bicudo, chute dos sem-habilidade, proferido com o dedão. Era aquele momento do desabafo, “_ Que as coisas não são assim”... Enfim, libertação talvez.

Mas a bola foi pra fora. De um modo estranho, o chute simples saiu torto, a bola era oval, o pé de apoio não estava correto – God Only Knows. Nem com todas as possibilidades tecnológicas e físicas seria possível explicar o que aconteceu. A bola simplesmente não entrou. A partida perdeu aquele sentido, então. Sei lá, nem me importei com o erro, mas ainda não queria perder. No fim, acho que acabou em empate. Engraçado que essa partida foi a última do dia. Ninguém quis continuar. Acho que a lição ficou pra todos, ou pelo menos, gosto de pensar que ficou.


2 comentários:

Valdir Souza disse...

Se alguem não entender a legenda da foto, joguem nesse traduto: http://www.google.com.br/language_tools

Anônimo disse...

Hauehauhea!

Sensacional texto! Muito bom mesmo!!!

Abraços.