Na incrível falta do que falar nesses dias, resolvi apelar para algo que já é inerente ao cotidiano do ser humano - a música. Quando estiver com vontade de escrever, e não ter uma idéia interessante, aparecerei (que palavra feia!) com uma resenha sobre os albúns que marcaram/marcam/estão marcando minha vida. Afinal, como diria o poeta, "Ah Ah Ah, não pode parar".
Vamos começar com classe, já que é pra ser o primeiro, não haveria escolha diferente. Estas são provavelmente as músicas que eu mais ouvi até hoje na vida. Às vezes fico um bom tempo sem escutá-lo, mas eu sempre lembro dele naquela semana meio parada.
Weezer - "Blue Album", ou "Azul", como diria um nacionalista amigo meu.
Pra começar, esse cd do Weezer nao tem nome, é só Weezer mesmo. Vendo a capa ao lado você já adivinha de onde veio o apelido "Blue...". Então, ele foi lançado nos meados de 94, pela Geffen Records - a mesma do Nirvana - com incríveis 10 canções.
Dez canções impressionantes. Se houvesse sido lançada (até o presente momento) uma coletânea da banda, incluir as 10 músicas seria estranho, mas não um absurdo. Absolutamente. O disco começa com My name is Jonas, uma introdução rápida de violão que já desaba numa das maiores qualidades da banda, a bela distorção das guitarras e, antes que eu me esqueça, distorção com as paletadas pra baixo (sim, pra baixo, não-alternadas). Que acaba lembrando os Beatles, se eles usassem distorção, é óbvio, na fase Iê-iê-iê. A música em si não vende o estilo do Weezer por completo, mas já fica impresso com letras interessantes. Rivers Cuomo berra "The workers are going home!! Yeah, yeah, yeah!". Muito legal. E lá vem de novo a introdução, ou seria Outro? de violão, como no inicio da musica, selando a própria.
Daí vem No one else, com as mesmas guitarras, mas já com a levada característica da banda. Música feliz, que te bota pra cima. A letra é tola e simplória, como de quem que acabou de sair da High School.. "I want a girl who will laugh for no one else" - isso mesmo, reminiscências da adolescência nerd de Cuomo. Bonitos arranjos de guitarra, viradas de bateria, e um refrão ganchudo. Partimos então para The world has turned and left me here, violão e guitarra (distorcida, claro) juntos. Acho estranho porque ao vivo, a guitarra devia ficar por cima do violão, bem, como ainda nao vi nao sei. A música diz no fim, com a segunda voz, "Do you believe what I sing now?, parece um recado. Eu sempre achei que ele cantava num "still the boy behind my face" num trecho, mas na verdade é "still the voice..", bem, segue a luta. a música é meio triste e termina com aquele clima violão e microfonias... Para a incrível Buddy Holly - Rivers diz - "Sim, nós acreditamos no anos 60 e em sua sonoridade e não me importo!". Vide "I don't care what they say about us anyway. I don't care 'bout that." Tem até aquela paradinha, em que todos instrumentos para de tocar e só a guitarra faz um arranjo, pra em seguida, todo mundo voltar a tocar. É clássica, e tem um clipe perfeito (vide meu orkut, lá tem). A próxima é Undone (The sweater song), li num blog e concordei com a descrição. É um perfeito exemplo de uma música indie dos anos 90, pela levada e pelas letras. Demorei a reparar, mas na intro tem um diálogo que aparentemente se passa dentro de um show, uma festa. Um cara está todo animado enquanto o outro só dá respostas enviesadas - típico de quando você encontrar alguem numa festa e não quer conversar muito com a pessoa. A letra mesmo da música diz: "If you want to destroy my sweater, Hold this thread as I walk away". Tem aquele velho formato, música tranquila, refrão destruidor, formato o qual nunca nos enjoamos. Alguem discorda? Pergunte ao Kurt Cobain... Voltando a música, tem até solo, e muito bonito. Em seguida vem Surf wax America. Acredito eu uma letra cheia de sarcasmo para com os surfistas, ratos de praia, etc.. Tem duas partes dessa música que são muito interessantes. No meio dela, quando tudo para e o Rivers canta com um backin' vocal foda e uma linha de baixo para, em seguida, acelerar a música de novo e, no melhor estilo Ramones, gritar "Let's Go!", e finalizar com... distorção! Agora, essa é a melhor. Eu nunca pensei que diria, mas Say it ain't so é a melhor. Assim, ela nem resume a banda completamente. Não tem todos elementos característicos. Mas ele é demais! Admito que faço hair guitar nessa música... pra falar a verdade até hair bass eu faço de vez em quando! Ela é redonda, sem arestas. Não tem nenhuma nota sobrando nem faltando! Tem um riff sinistro (tava faltando esse adjetivo), solo desgraçado, e aquela guitarrinha limpa do início é absurda de boa. Toda vez que pego num violão eu toco essa música. Ela é estremamente pessoal do ponto de vista do compositor, fala sobre o pai do vocalista, que era separada de sua mãe. Mas mesmo com esse clima, ela é demais. Agora temos o hino nerd definitivo. Sério, mais geek do que essa música impossível! In the garage já começa com a primeira estrofe falando na primeira pessoa - vou até traduzir pra não ter dúvidas - "Eu arrumei o livro do mestre, eu arrumei um dado de 12 lados, eu comprei a Kitty Pryde, e o Noturno também, esperando por mim". Bem, mais referências do que isso não tem jeito. E ainda diz no refrão:"In the garage, I feel safe.No one cares about my ways. In the garage where I belong. No one hears me sing this song." A garagem de Cuomo, seu refúgio com seus livros de RPG, miniaturas dos X-men e discos do Kiss. Tá bom ou quer mais? Fora a introdução de gaita e violão... Pronto, chegamos a penúltima Holiday. Interessante que o cd não desacelera. Só na última mesmo. Mas ainda não chegamos lá... Essa, como não pode ser diferente, é essencial. A letra nos convida a uma viagem para um lugar desconhecido e distante, na velocidade de uma batida de coração, sem preocupação com malas ou com o resultado de tudo. Psicodélico, e lá continuam as palhetadadas pra baixo, enfim, o que faz o Weezer, Weezer. Sem mais demoras, o final. Only in dreams, a derradeira canção de quase oito minutos! "You can't avoid her. She's in the air... In between molecules of Oxygen and Carbon Dioxide." Eu fui reparar nesse verso anos depois de já tê-la escutada várias vezes.. Acho isso muito interessante em alguns álbuns, os pequenos detalhes que só vemos com o tempo. A música em si é linda. Uma batida de baixo marca a música toda com a bateria, para posteriores incursões das guitarras. Rivers canta com o tom lá no alto, fazendo raiva a muito moleque ai que tenta alcançar: Only in dreams!!! E volta o baixo e a batera, tem solo, outro solo, fica só o baixo, um monte de coisas.. Os instrumetos se alternam para o grand finale. Fica aquela bateria marcando junto no prato e na caixa, sabe? Na verdade eu falei ao contrário, só inverter minhas frases. Mas tudo bem, esse é o fim. Fine. The end. That's all Folks
Not to be continued. Tudo isso representado numa última nota Lá, no contra-baixo.
Sabe, esse conjunto de músicas não é conceitual, não mudou a história do rock, não criou escatologias, mas, acima de tudo, é carregado de sentimento. Chega ser até uma catarse. São 10 canções extremamente sinceras sem qualquer intenção incutida ou pré-estabelecida. Verdairo, autêntico, com o maior número de pleonasmos possíveis. Interessante que há algum tempo eu o achava estremamente datado e ligado a uma certa época, mas hoje vejo que pra mim, será sempre atemporal.
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